Pois bem, esse estudo conduzido por Joseph Altonji, Sarah Cattan e Iain Ware, das universidades de Yale, Chicago e da consultoria Bain & Co., respectivamente, jogam uma luz inicial no problema. Mas para entender a solução primeiro é necessário entender a diferença entre correlação e causalidade.
Correlação é quando duas coisas ocorrem paralelas. Por exemplo, se seu irmão tem fisionomia oriental, você provavelmente tem fisionomia oriental. As duas coisas (sua aparência e a aparência de seu irmão) estão correlacionadas. Mas isso não quer dizer que uma causa a outra. Não é o fato de você ser oriental que faz com que seu irmão seja oriental. São duas coisas que tende a acontecer juntas (correlatas) mas que não impactam uma na outra (causal). É o fato de vocês terem ao menos um dos pais com fisionomia oriental que influenciou sua aparência. Logo, sua filiação, essa sim, é uma relação de causalidade: sua aparência é influenciada pela aparência de seus progenitores.
Pois bem, os três pesquisadores chegam a duas conclusões importantes:
Primeiro, que há, sim, uma correlação entre uso de substâncias nocivas entre irmãos. Se o irmão mais velho fumo, há uma maior probabilidade de o irmão mais novo também fumar. Mas é o fato de o irmão mais velho usar essa uma substância nociva que leva o mais novo a usa-la também? Ou são outros fatores, como a educação dada pelos pais, o local onde vivem, a escola que frequentam etc?
Os dados da pesquisa parecem indicar que há, sim, uma relação de causalidade. Aparentemente, irmãos mais velhos que usam substâncias nocivas para a saúde tendem a levar irmãos mais novos a também usarem substâncias nocivas. Especialmente no período imediatamente subsequente ao início do uso da substância pelo irmão mais velho. E quanto maior o consumo pelo irmão mais velho, maior a probabilidade de que o irmão mais novo também usará aquela mesma substância nociva.
Como os próprios pesquisadores apontam, esses são resultados iniciais, e certamente o irmão mais velho não é a única (e nem mesmo a principal) má influência sobre o irmão mais novo. Mas esses resultados servem como alerta para a importância da família na formulação de políticas de saúde pública.
Tolstoy, em Anna Karenina, disse que “todas as famílias felizes são iguais; mas toda família infeliz é infeliz de sua própria maneira”. Passar toda a responsabilidade pelo desenvolvimento da criança para a família é perda de tempo, mas ignorar sua importância e sua capacidade de tornar infrutífero investimentos em políticas públicas é ainda pior. O meio no qual o indivíduo está inserido tem grande influência em seu comportamento, tanto para o bem quanto para o mal. e a família tem uma importância especial. Como os próprios pesquisadores alertam, além da influência de irmãos mais velhos, a criação desses maus hábitos é “mais provável em crianças que possuem pais que não as ajudam, pais desinformados e pais que não se envolvem. Ela também é mais frequente em crianças que recebem conselhos de pessoas que não seus pais, e em crianças que não convivem com ambos os pais biológicos”.
Problemas como consumo de drogas, alcoolismo e tabagismo são problemas que precisam ser enfrentados de forma global e não apenas com medidas pontuais ou que foquem apenas no indivíduo. É fundamental o investimento em políticas de longo prazo, e trazer a família para o centro da solução do problema.