É por isso, por exemplo, que New Hampshire, nos EUA, mantém o salário dos legisladores baixo: US$100: apenas quem está realmente comprometido com a causa pública se candidata.
Pode parecer que não faz sentido, afinal, na iniciativa privada, uma empresa paga mais para as pessoas mais qualificadas.
Mas vamos pensar direito: na iniciativa privada, o salario é ditado pela qualidade do empregado. Se uma empresa quer recrutar alguém mais gabaritado, deve pagar mais. Se pagar menos, perderá seus melhores funcionários. Mas – e aí que está o xis da questão – na iniciativa privada as empresas têm como auferir a qualidade e produtividade de seus empregados.
Já em uma eleição, essa medição torna-se não só mais subjetiva, mas também mais diluída. Cada eleitor tem uma forma diferente de julgar cada candidato. O candidato acaba sendo eleito não por sua qualidade técnica, mas pela capacidade de atrair o maior número de eleitores com parâmetros – subjetivos – parecidos: a média da sociedade.
Quando se aumenta o salário do parlamentar, atrai-se uma gama muito maior de pessoas. Com o salário menor apenas as pessoas realmente comprometidas com a causa pública se dispõem a se candidatar. Além disso, as pessoas qualificadas que se candidatam para trabalhar recebendo pouco são aquelas que já ganharam dinheiro por conta própria ou herdaram suas fortunas: justamente as que provavelmente estudaram em melhores faculdades.
Por outro lado, com um salario alto, pessoas menos comprometidas acabam sendo atraídas pela possibilidade de se elegerem. Mas a maioria dos eleitores não está capacitada a descobrir se um parlamentar está se candidatando pelas razões corretas ou não. Eles, como acabamos de ver, elegem baseados em fatores subjetivos.
Quanto menor o grupo de candidatos, maior a possibilidade desses candidatos serem diferentes da média; e quanto maior o grupo de candidatos, mais a média geral dos eleitos será parecida com a média geral da sociedade. É uma questão estatística. Pense em moedas, por exemplo: se você jogar uma moeda mil vezes, é muito provável que 50% das vezes será cara e 50% das vezes será coroa. Se você jogar a moeda apenas duas vezes, a chance de que ambas sejam só cara ou só coroa aumenta é muito maior. Se há milhares de candidatos, eles serão ‘a cara da sociedade’. Se os eleitores não estão preparados para analisa-los tecnicamente, é essa cara que será eleita.
Um grupo grande de candidatos refletirá a média da sociedade. Um grupo pequeno tem maior possibilidade de ser diferente do resto da sociedade.
Mas por que o grupo pequeno é melhor do que o resto da sociedade? Ser diferente da média não significa estar acima da média.
Bem, a hipótese mais lógica é que as pessoas mais tecnicamente qualificadas são aquelas que estudaram em melhores escolas e por isso ganharam mais dinheiro e podem, agora, se dedicar a ajudar o resto da sociedade sem se preocupar com salario.