Ele contêm várias informações interessantes, como o fato de que o governo subsidia 27% do custo da tarifa, e que a margem de lucro é de 3%. Também revela que um terço do valor pago pelo passageiro é usado para subsidiar o custo daqueles que não pagam (idosos, estudantes etc). Se não fosse por esse subsídio, a tarifa seria de R$1,98 (ou, alternativamente, a passagem poderia aumentar para R$3,11, mas o governo não pagaria mais subsídio às empresas de transporte (o que pouparia R$3,28 bilhões por ano aos cofres de São Paulo).
Em outras palavras, há dois subsídios na passagem: um, de R$1,02, pago diretamente por todos usuários pagantes e que é usado para subsidiar quem não paga. E outro, de R$1,13, pago pela sociedade e que é usado para subsidiar a todos que usam o transporte coletivo (pagantes e não pagantes).
Subsídios são sempre questões complexas e que envolvem paixões, argumentos racionais e interesses pessoais. E, infelizmente, quando não diferenciamos essas três coisas, acabamos jogando dinheiro fora.
Por exemplo, se eu sou idoso, óbvio que tenho um interesse pessoal em não pagar. Mas a moça sentada ao meu lado não estará, necessariamente, interessada nos meus interesses pessoais. Se ela pega dois ônibus por dia para trabalhar, no fim do ano ela economizaria R$530 se ela não tivesse que me subsidiar.
O motorista no carro ao lado, que não usa o transporte coletivo, tem também interesses pessoais: ele paga R$588 por ano para subsidiar o transporte coletivo (incluindo o da moça que não quer subsidiar o transporte do idoso).
Enfim, tomados individualmente, o subsídio não faz sentido para quem não se beneficia diretamente.
Mas, tomados coletivamente, ele pode (ou não) fazer sentido, mesmo para quem não se beneficia diretamente dele. É o benefício social.
Mas aqui também temos que tomar cuidado, porque argumentos que podem soar racionais, são muitas vezes apenas interesses pessoais disfarçados. Por exemplo, a moça do exemplo acima um dia se tornará idosa e se beneficiará do mesmo subsídio que hoje paga.
Esse não é um benefício social, mas apenas um benefício direto deferido no tempo.
O benefício social que justifica o subsídio é aquele no qual o benefício se dilui na sociedade.
Por exemplo, ao subsidiar o transporte público, o motorista no carro ao lado possibilita que mais pessoas usem o transporte coletivo, que polui menos, causa menos congestionamento, não causa problema de estacionamento, nos iguala, etc. Não é apenas o motorista que se beneficiará, mas toda a sociedade.
Nesse sentido, o que o governo faz ao impor esses subsídios é usar seu poder para diluir custos sociais pelos quais ninguém, sozinho, estaria disposto a pagar.
Deixados livres para escolhermos, ninguém pagaria R$3,28 bilhões sozinho não só porque poucos teriam tal capacidade financeira, mas também porque quem pagasse não teria um benefício no mesmo patamar. Ele estaria, sozinho, beneficiando a todos. Economicamente, seria estupidez.
Mas essa mesma situação na qual ninguém paga aumentaria o custo do transporte público, o que levaria mais pessoas a usarem carros, e todos sairíamos perdendo.
No ramo da matemática que estuda teoria dos jogos isso se chama Nash Equilibrium (em homenagem ao seu inventor, John Nash (aquele do filme Uma Mente Brilhante)): deixadas a seu livre arbítrio, as pessoas, sabendo qual é a melhor estratégia do ponto de vista das outras pessoas (no nosso exemplo, ‘não pagar R$3,28 bilhões’), escolhem a melhor estratégia para si (também não pagar R$3,28 bilhões). Mas esse equilíbrio não é necessariamente o melhor para todos. Ou seja, agindo egoisticamente, as pessoas acabam dando um tiro nos próprios pés.
Daí o Estado interferir e forçar-nos a subsidiar.
No exemplo acima, ao nos forçar coletivamente a pagar o subsídio de R$3,28 bilhões, cada pessoa paga ‘apenas’ R$164 por ano de subsídio.
Mas mesmo quando um subsídio é racionalmente justificável, temos ainda que nos perguntar se seu valor é racionalmente justificável. Por exemplo, R$164 por ano é um custo racional para vivermos em uma cidade menos congestionada, menos poluída etc? E se fossem R$10 mil?
Essas são duas questões separadas, mas que quase sempre são vistas como se fossem uma única questão. Ainda que faça sentido subsdiar algo, o custo pode não ser justificado. Ao se contestar o custo não se está necessariamente contestando se faz ou não sentido subsidiar.